Romeo and Juliet foi sem dúvida o maior sucesso literário do poeta e dramaturgo inglês, William Shakespeare. A tragédia escrita no final do século XVI tem dois adolescentes como protagonistas. Em tempos pretéritos a adolescência não passava de figurante na arte e na sociedade. Há quem defenda que em Romeu e Julieta, Shakespeare não pretendia abordar a puberdade como uma idade dos amantes. Seu interesse teria sido retratar a rebeldia peculiar da Idade Escolar (como definiu a adolescência no poema “As sete idades do homem”) contra as tradições dos pais.

Se a “idade escolar” não era foi ocupação para os escritores, fato é que historicamente a mesma tem exigido a atenção de pais, mestres e clérigos. Uma vez reconhecida como um período de altas mudanças nos processos psicológicos, uma atenção especial só emergiu na segunda metade do século XIX pelos educadores e posteriormente pela psicanálise, que percebeu a sexualidade não apenas como um assunto reprodutivo, mas em perspectivas objetivas e subjetivas, um fator essencial para o processo do desenvolvimento humano. Assim, parafraseando Nietzsche, pode-se dizer que a “gaia Adolescência” é um campo recém descoberto, isto é, embora não seja uma novidade para o indivíduo, é uma “menina” para a cultura ocidental.

Apesar das mudanças hormonais, estruturais e comportamentais na vida dessa não-mais-criança-mas-ainda-não-adulto, os mais atingidos neste processo são os pais. Crescer é um prazer para a criança, mas uma agonia para o adolescente e um choque para os adultos.

O pastor americano Eugene Peterson foi um profícuo escritor que se destacou com uma vasta literatura para os líderes eclesiásticos. Conhecido globalmente por sua versão da Bíblia em linguagem contemporânea (A Mensagem), Peterson foi em seu tempo o representante mais precioso da Teologia Espiritual. No livro Crescendo Com Seu Filho Adolescente (título original: Like Dew Your Youth), Peterson registra que a adolescência é um presente de Deus aos pais na meia-idade. “A Adolescência não é apenas o processo estabelecido por Deus para levar as crianças à idade adulta, é ainda o plano do Criador para fornecer algo essencial aos pais nos anos que são críticos na vida deles também”. Este livro é um compilado de desafios aos pais que estão passando por uma fase da vida que exige que “cresçam”.

Cada capítulo confirma a teoria de Peterson de que o adolescente é um laboratório vivo que deve ser encarado “não como um problema, mas como uma experiência a ser vivida pelos pais de meia-idade”. Para Peterson, o ambiente familiar é mais importante como local de desenvolvimento da fé do que a fé como um mero recurso para desenvolver as famílias.

Voltando para as Escrituras (o Livro) onde encontramos o adolescente Samuel perguntando a Eli se a voz que ouvira era do velho sacerdote. Na terceira vez Eli percebeu que era “O SENHOR quem chamava Samuel”. Eli disse a Samuel: – Vai, e se alguém te chamar… (I Sm 3.9). “Vai” é a voz que precisa ecoar da boca de pais e mães aos filhos a partir de certo momento, afinal não existe experiência com Deus de segunda-mão. Devemos conduzir pela mão os nossos meninos e meninas, mas só até certo ponto. Porque em certa fase da vida eles mesmos terão que responder a Deus.

Se tratarmos o crescimento dos filhos como mera rotina orgânica que apenas exige casa, comida e controle, perderemos a oportunidade de crescer junto com eles.

Romeu e Julieta é literatura inglesa com alma grega, ou seja, é tragédia. Uma tragédia que já ocorria entre as famílias dos adolescentes. A ficção de Shakespeare nos serve de alerta: a tragédia na vida dos filhos vem a reboque da rotina dos pais. Portanto, todos precisamos crescer. Cresçamos juntos!

Livroelivros.convenção Coluna do Pastor Ramon Marcio com dicas de leitura

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