Entre Sócrates, Paulo e a verdadeira humildade cristã

Vivemos tempos em que o saber se tornou símbolo de status espiritual. Muitos se aproximam do conhecimento de Deus não para amá-lo mais, mas para serem admirados pelos homens. No entanto, a verdadeira sabedoria cristã não está em saber muito, mas em conhecer a Deus com humildade e amor.

O filósofo Sócrates, com toda a sua fama de sábio, declarou: “Sou o mais sábio de Atenas porque sei que nada sei.” Essa confissão encontra resposta também na fé cristã, pois quanto mais conhecemos a Deus, mais percebemos o quanto Ele é infinito — e o quanto ainda temos a aprender.

O profeta Jeremias já advertia sobre o verdadeiro motivo de nossa glória:

“Assim diz o Senhor: não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor” (Jeremias 9.23-24).

Nosso Deus não é o meio para alcançar outro fim — Ele é o próprio fim. O maior prazer do crente não está em usar Deus para atingir seus sonhos, mas em deleitar-se em conhecê-lo. O conhecimento que não nos leva à adoração é apenas vaidade intelectual.

O apóstolo Paulo, escrevendo aos coríntios, alerta:

“O conhecimento ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém cuida saber alguma coisa, ainda não sabe como convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” (1 Coríntios 8.1b-3).

Paulo coloca o amor como o critério do verdadeiro saber. O conhecimento que se isola da caridade se transforma em arrogância espiritual. William Lane Craig, comentando esse texto, afirma com precisão:

“Se você acha que é esperto e que descobriu tudo a respeito de Deus, na verdade, você nada sabe e é apenas um tagarela intelectualmente inflado” (Apologética para Questões Difíceis da Vida, Ed. Vida Nova, p. 43).

A teologia sem amor é como um corpo sem alma — ela não respira graça, apenas orgulho. Quanto mais o cristão cresce no conhecimento de Deus, mais deve crescer na humildade e na reverência.

Por isso, o chamado bíblico é para gloriar-se em conhecer ao Senhor. Conhecer a Deus é caminhar em amor, é desejar mais a presença do que as respostas, é encontrar no próprio Cristo o nosso maior bem. Como escreveu o apóstolo em Filipenses 3.8:

“Considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor.”

Seja essa a nossa oração e motivação: o prazer de amar e conhecer ao Senhor, afastando de nós o prestígio do saber, pois Deus não se revela a quem quer ser admirado, mas a quem deseja adorá-lo.

Rodrigo Lima Borges

Pastor, Advogado e Professor

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