grejas batistas da mesma fé e ordem. Percebe-se que alguns pastores, talvez pela pressa em acolher novos membros, têm deixado de lado a prática historicamente adotada pela maioria das igrejas batistas filiadas à Convenção Batista Brasileira (CBB).

Segundo essa prática, a igreja que recebe um membro de outra igreja delibera em assembleia sobre a recepção, e, em seguida, envia um pedido formal de transferência à igreja de origem. Esta, por sua vez, também em assembleia, decide se concede ou não a transferência.

No entanto, para encurtar esse processo, algumas igrejas têm optado por simplesmente receber o novo membro por “aclamação”, sem maiores formalidades.

Recentemente, uma querida ovelha mudou-se para uma cidade do interior de São Paulo e passou a frequentar uma igreja batista local. Depois de algum tempo, ela me ligou informando que a secretária daquela igreja havia solicitado o envio da sua transferência. Veja: nem foi o pastor, mas a secretária da igreja!

Esse episódio reforça como a prática da Administração Eclesiástica, ensinada tradicionalmente aos pastores, tem sido negligenciada por muitos líderes mais jovens. O rito do pedido e da concessão da “carta de transferência” é fundamental para consolidar a cooperação, a ética e o respeito mútuo entre igrejas da mesma fé e ordem. É claro que, com o avanço da tecnologia, a “carta” pode ser enviada por WhatsApp, e-mail ou até pelos correios; mas, independentemente do meio, a essência do processo deve ser preservada.

Vale lembrar que a “aclamação”, como o próprio nome indica, é a expressão coletiva, pública e unânime de apoio ou aprovação. Originalmente, era utilizada quando a igreja de origem do candidato não possuía informações suficientes sobre ele — seja porque havia perdido documentos, seja porque a igreja havia deixado de existir.

Com o tempo, pela força do hábito, muitas igrejas passaram a receber também membros vindos de outras denominações por aclamação. Mais recentemente, essa prática passou a ser usada também para receber membros de outras igrejas batistas da mesma fé e ordem, o que tem gerado alguns problemas, como o risco de uma mesma pessoa constar simultaneamente no rol de membros de duas igrejas, criando inconsistências nos censos anuais da denominação.

Outro grande benefício de se observar a prática histórica da solicitação de carta de transferência é a possibilidade de garantir que o irmão ou irmã que será recebido tenha vivido uma vida cristã coerente com as Escrituras. Esse cuidado evita possíveis dissabores para pastores, líderes e membros da igreja que acolherá o novo integrante.

Não são raros os casos de pessoas que deixam suas igrejas de origem feridas e, muitas vezes, deixando feridas abertas em outros. Sob esse ângulo, a prática saudável da carta de transferência ajuda a liderança da igreja receptora a iniciar um processo de discipulado, mentoria ou aconselhamento bíblico, a fim de auxiliar o novo membro na correção de posturas, na cura de feridas e em mudanças práticas para um crescimento espiritual saudável.

Há pastores que, com zelo e amor, já ajudaram membros recém-chegados a encontrarem forças para voltar à sua igreja de origem, pedirem perdão e corrigirem atitudes que não foram edificantes. Sabemos que feridas não tratadas no passado prejudicam não só o crescimento espiritual do indivíduo, mas também mantêm abertas as cicatrizes da igreja que ele deixou, além de aumentarem o risco de repetição dos mesmos erros no novo ambiente.

Diante de tudo isso, fica aqui meu incentivo para que continuemos a observar e valorizar a prática saudável da solicitação e envio da carta de transferência. E, para que esse processo seja conduzido com zelo e ética, é recomendável que, além da solicitação formal da carta, o pastor da igreja receptora entre em contato diretamente com o pastor da igreja de origem. Uma simples conversa pode trazer informações valiosas que ajudarão o novo pastor a cuidar com mais amor, sabedoria e dedicação da nova ovelha confiada ao seu rebanho.

Esse contato não apenas demonstra prudência, mas também revela zelo, respeito e ética pastoral, fortalecendo a unidade e a cooperação entre as igrejas do Senhor.

Hélio Alves de Oliveira
Pastor Titular da PIB Governador Valadares – MG
Professor de Administração Eclesiástica

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