Há uma tendência profundamente humana de adotar atitudes que, com o tempo, acabam se voltando contra nós mesmos, e o ódio, talvez, seja o exemplo mais claro e cruel dessa armadilha emocional.
Ao odiar alguém, imaginamos que estamos punindo a pessoa com nosso desprezo ou rejeição, mas, na prática, somos nós os mais atingidos. O ódio se disfarça de força, mas corrói por dentro, obscurece nossa visão da vida, interfere nas decisões e transforma rotinas em batalhas silenciosas.
A pessoa que você odeia tem mais poder sobre você do que imagina. Por mais que pareça que você está no controle, é ela quem guia suas emoções, seus pensamentos e até suas ações. Sem perceber, você se torna prisioneiro. Ela passa a ocupar um espaço desproporcional em sua vida.
Durante a noite, o sono foge. Você se vira de um lado para o outro, o coração apertado. Por mais que tente se distrair, contar carneirinhos ou respirar fundo, a mente permanece refém da lembrança da pessoa que você não consegue esquecer. O dia amanhece, o céu está bonito, mas você não consegue apreciar. O bom humor dá lugar à irritação, e até as tarefas mais simples parecem pesadas. O trabalho perde o brilho, seu rendimento cai. Tudo isso por causa da pessoa que você odeia.
Na hora do almoço, o prato está apetitoso, a comida cheira bem, mas você nem sente o sabor. Há um nó na garganta, um mal-estar que bloqueia o prazer de se alimentar. É a raiva que continua ali, presente, mesmo quando tudo ao redor está em paz.
Você tenta relaxar, sai para espairecer, vai a um lugar tranquilo. E lá você se encontra com ela. O passeio acaba ali. Você volta para casa mais cedo, incomodado a ponto de explodir.
Mudar de emprego, de bairro, até de cidade parece a única saída. Está disposto a recomeçar do zero, só para escapar da presença ou da lembrança dessa pessoa.
Com o tempo, o corpo reage: crises nervosas, palpitações, dores de cabeça, até reações físicas como manchas na pele. O ódio pesa e cobra caro.
A sabedoria bíblica nos lembra: “O ódio excita contendas” (Provérbios 10:12). Ele alimenta o conflito, mesmo em silêncio. Enquanto você dá lugar a esse sentimento, ele cresce, ocupa, domina. E o pior: a pessoa que você tanto rejeita acaba sendo o centro do seu mundo.
Perdoar é mais difícil que odiar, mas liberta. Por isso, só há um caminho: o perdão. Perdoar não é passar a mão na cabeça de quem errou. É escolher não carregar mais esse peso. Não é um favor ao outro. É libertação para si mesmo.
Você tem duas opções: continuar cultivando o ódio e permanecer escravo, ou perdoar e viver em liberdade, desfrutando da leveza que a vida pode oferecer. A escolha é sua.
Se quiser ser livre, faça como ensinou Jesus: perdoe. Ou, então, prepare-se para passar o resto da vida à mercê da pessoa que você mais gostaria de esquecer. E lembre-se: a vida é curta demais para sermos inimigos de nós mesmos.
Pr. Sebastião Arsênio
Pastor da Igreja Batista da Esplanada em Governador Valadares
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